segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Custódio Coimbra: "busco a imagem que sintetize o clímax da matéria"

Thiago da Mata


Fotojornalista desde os anos 70, o carioca Custódio José Bouças Coimbra passou pelas redações de importantes jornais do Rio de Janeiro, como O Repórter e Última Hora (ambos extintos), depois pelo Jornal do Brasil até ser admitido no jornal O Globo, onde trabalha há mais de 20 anos.

Suas fotos já ilustraram reportagens publicadas em diversos veículos do mundo. Com olhos treinados para notar imagens que melhor traduzam fatos importantes para a sociedade, cobriu alguns dos acontecimentos mais relevantes da história recente, como as campanhas presidenciais de 1989, 1994, 1998, 2002 e 2006, além das visitas de Gorbatchev, Ronald Reagan, Henry Kissinger, Fidel Castro, Jacques Chirac, Papa João Paulo II e Dalai Lama ao Brasil.


Com quase 30 anos de carreira, já participou de várias exposições individuais e coletivas, todas com forte cunho sócio-ambiental. A mais recente, Diário do Rio, ocorreu no Centro Cultural Correios e foi rebatizada de Le Brésil à la une para ser exposta na Maison des Amériques Latines em Paris, como parte do calendário do Ano do Brasil na França. Também já publicou trabalhos em vários livros, como O Rio sob as lentes de seus fotógrafos, de 1992, Tons sobre Tom — A vida e a obra de Tom Jobim, de 1996, e Brasil 500 anos, em 2000.


Ganhador do Prêmio Esso de Contribuição à Imprensa e do Grande Prêmio Ayrton Senna na categoria Jornal, Custódio Coimbra  lembra que o trabalho mais prazeroso de sua vida foi fotografar sua cidade do alto, sentado no braço do Cristo Redentor até o amanhecer.

Nascido no bairro carioca de Quintino Bocaiúva, Coimbra começou a fotografar aos 11 anos. Sua trajetória profissional vai levá-lo, mais tarde, a O Repórter, publicações sindicais e, em seguida, à Última Hora, em 1982, quando suas fotos ilustraram matérias de página inteira. Na mesma época, nos fins de semana, era frellancer no JB.


“Uma vez, fiz umas fotos da greve de motoristas de ônibus para o JB no domingo, mas a notícia deu capa na edição de segunda. O chefe viu o meu nome na foto do concorrente e me demitiu”, conta. A história poderia ter sido trágica, se não fosse pela seqüência do relato. Coimbra telefonou para Alberto Ferreira, na época editor de fotografia do JB, e disse a ele: “Poxa, Alberto, acabei de ser demitido na Última Hora”, ao que Ferreira respondeu de pronto: “Meus parabéns! Você acaba de ser admitido no JB”.


Na nova empresa, onde ficou de 1984 a 1989, conheceu a rotina dos grandes jornais e adquiriu mais experiência. A morte de sete pessoas pisoteadas em 1985, durante o velório do ex-presidente Tancredo Neves, em Belo Horizonte, marcou sua vida:

“De todos os fotógrafos que estavam na cobertura – e olha que tinha gente de todos os jornais e agências de notícias –, só eu consegui registrar aquela cena. Subi num muro do Palácio da Liberdade e fiz as fotos sem perceber que só havia eu fazendo aquelas imagens. Quando terminei de fazer as fotos, ganhei um tapinha nas costas do ‘papa da fotografia’, Luiz Pinto (do concorrente O Globo), que disse: “Parabéns, garoto!”, recorda.


Imagem única: Custódio Coimbra, único fotografo a registrar as pessoas pisoteadas no cortejo do ex-presidente.
Mas ele só entenderia os parabéns no dia seguinte, quando o JB abriu três páginas só de fotolegendas e nenhum outro jornal tinha imagens para publicar. Um convênio do Jornal do Brasil com a Agência AP fez com que as fotos fossem transmitidas para mais de sete mil jornais no mundo. Nos Estados Unidos, uma das imagens foi publicada na primeira página em seis de cada dez jornais.


Já reconhecido e requisitado, em 1989, foi convidado por Anibal Philot para integrar a equipe de O Globo e participar da implantação da cor nas fotos do impresso. Depois de coordenador e editor dos departamentos de fotografia dos jornais de bairros, Custódio passou a cuidar das matérias especiais produzidas para as edições dominicais.


Para explicar sua filosofia de trabalho, ele afirma: “Procuro o clímax, a hora mágica. Seja num grito de dor, de alegria ou de tristeza. Vou em busca da emoção. Da minha e do que estou fotografando”.


Atualmente, parte do seu trabalho está na exposição Olhar Carioca, no segundo piso do Shopping Rio Sul, em Botafogo, Rio de Janeiro. Imagens inéditas da Agência O Globo feitas por ele e outros quatro fotógrafos: Marcelo Carnaval, Ivo Gonzalez, Leonardo Aversa e Márcia Foletto. A mostra fica em cartaz até o dia 31 de outubro.

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